domingo, 28 de abril de 2013

Pensamento mágico - 4 (A dor da perda)



A escritora americana Joan Didion narra o dolorido período de 12 meses em que enfrentou a morte súbita do marido e acompanhou a doença da filha (que também acabaria morrendo) no livro "O Ano do Pensamento Mágico". Como ela, muitos de nós experimentamos dias que amanhecem como qualquer um e dão uma guinada, abalando nossas estruturas. “A vida muda rápido, a vida muda num instante, você se senta para jantar e a vida que você conhecia antes acaba de repente”, escreve Joan em seu relato pungente, cru e realista.

A dor advinda de um choque inesperado é muito mais brutal que um processo que se arrasta por meses. No processo, chamado de “ending” (ou finalização) pelo psicólogo americano Stanley Keleman, há um tempo para a assimilação da perda. No choque, não. “Toda mudança precisa de um tempo de maturação, seja ela o nascimento de uma flor, seja o culminar de uma idade, seja uma transformação no modo de viver. É muito difícil viver o fim prematuro e inesperado de um ciclo”, diz a psicoterapeuta Sandra Taiar.

Quando uma situação ou um ciclo acaba – ou seja, quando aquilo que era estável já não pode prosseguir ou não faz mais sentido –, é preciso reconhecer que algo mudou definitivamente e que a vida não será a mesma. “Precisamos de um tempo para voltar a pulsar de maneira plena, com energia suficiente para fazer frutificar novos movimentos, ideias ou formas de se relacionar. Quando deixamos um ciclo de fato se encerrar, sem pressa, conseguimos voltar à vida mais íntegros”, afirma Sandra.

Essa pausa faz surgir novos hábitos, encontros, jeitos de fazer as coisas, interesses, necessidades. É extremamente importante ter essa pausa para cultivar e experimentar outras formas de viver antes de iniciar um novo ciclo. “Devemos ter paciência conosco e não desistir do novo que se apresenta”, diz a terapeuta, que desenvolve um trabalho, inclusive corporal, para que isso não ocorra.

Ao conseguir empreender essa tarefa, estaremos prontos para superar a dor mais aguda e para juntar forças a fim de encarar as inevitáveis mudanças geradas pela perda. Nesse ponto de reconciliação com a vida, os danos gerados por ela já serão mais administráveis. E a compreensão de que realmente há uma maneira mais sábia e saudável de passar pelo sofrimento pode nos ajudar muito.


Liane Alves

LIVROS:O Ano do Pensamento Mágico, Joan Didion, Nova Fronteira

http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/edicoes/098/grandes_temas/dor-perda-604118.shtml


Imagens: google.com


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