domingo, 24 de julho de 2011

● As religiões, o ser humano e Deus

Devemos depositar toda a nossa confiança em Deus, construindo um plano emocionalmente divino, uma expressão serena e de confiança, na certeza de que tudo passa. Cada manhã não é somente um novo dia. É muito mais... é a esperança, uma certeza que deve nascer do fundo da "alma", com a consciência que cada minuto que passa tudo pode mudar para melhor. Ter o desejo de estabelecer uma unidade, um equilíbrio entre as pessoas e o resto do universo. Daí a intensidade e a profundidade do anseio pela religiosidade, que não é de forma alguma, negado pelo espírito.

Bastamos pensar na identidade entre os objetivos da cura da alma e o conjunto de idéias e normas comuns a todos os ensinamentos humanistas do oriente e do ocidente. Dizem os pensadores humanistas: o ser humano deve procurar conhecer a verdade e o grau de humanidade a que lhe atinge, a independência e a liberdade. Deve ainda relacionar-se com os semelhantes pelo amor, pois se não dispõe de tal capacidade torna-se vazio e fútil, mesmo que disponha de todos os poderes materiais. Ao ser humano cumpre saber distinguir o bem do mal e compreender a voz da própria consciência e segui-la.

Pois bem. O processo da mudança é em si mesmo uma comunhão entre a inteligência e a sabedoria, isto é, o reconhecimento que a vida deve ser vivida na plenitude sem perder o equilíbrio emocional. Além disso, reconhecer quais das suas idéias vai beneficiar o maior número de pessoas possíveis. Pois a religiosidade baseia-se no princípio de que saúde e felicidade não podem ser obtidas, a não ser que filtremos nossos pensamentos, para que possamos integrar a nossa personalidade e viver honestamente, de acordo com a nossa realidade. Na verdade, auxiliar o próximo a distinguir entre verdade e engano que constitui o objetivo básico de cada pessoa de bem.

Ao lado do conceito de liberdade, os pensamentos dos fundadores das grandes religiões não a criaram para o mal do povo, fornecendo ênfase especial à presença de amor no coração de cada um de nós. As religiões, como a voz do povo, reconhecem que a capacidade de amar constitui a realização máxima, mas também é mais difícil se excluir dos amores criados pela emoção. Em nenhuma religião existe céu para os que odeiam. Pois não existe prova mais convincente de que o princípio da religiosidade é superar os fundamentos da religião. Isto é, conviver com todas as religiões não pensando na religião em si, mas nas pessoas que a escolheram por sua vontade e liberdade, que devemos respeitar sempre.
O amor ao próximo traduz a norma fundamental da existência, sua violação constitui a causa básica da infelicidade e da doença. Os sintomas dos sentimentos derivam, em última instância, de uma incapacidade de amar, a compreensão, aliados a um desejo sincero de cooperar para o desenvolvimento e para a felicidade da humanidade. A oração e outros artifícios religiosos são, em sua essência, uma tentativa para ajudar os pobres e doentes a conquistar, ou reconquistar, a sua capacidade de amar. Se este objetivo fracassa, nada é realmente obtido, a não ser alterações superficiais.

Portanto, a cura da consciência destina-se a ajudar o próximo a obter uma atitude que pode ser chamada de religiosa, no sentido ideal da palavra. Procura torná-lo apto a ver a verdade, a fazer-se livre e responsável, a amar a seus semelhantes e a viver de acordo com a sua consciência, o que lhe confere algo muito precioso, a paz interior.
Depois de considerarmos os pontos comuns à experiência religiosa e ao processo de amar o próximo, começa-se a compreender que as afirmações apressadas ou preconcebidas de que existe oposição irreconciliável ou, ao contrário, absoluta identidade entre as religiões e o povo, antes de postularmos um conflito a mais para cada uma delas, nossa cultura religiosa, já tão torturada desde a idade média, que o povo e as religiões vivem em um conflito, que até hoje, aparentemente, não se vê nenhum tipo de solução para a união. Podemos prever o futuro e até proclamar a paz entre as religiões, mas daí para uma fusão em torno de Deus, a distância é grande. Preferimos pensar que o problema da religião não se resume ao problema de Deus, mas engloba também e, principalmente, o problema do ser humano, nas suas relações em si mesmo e com os outros. As formulações e os símbolos religiosos valem pelas experiências humanas que traduzem. O que importa é a natureza dessas experiências.

Cumpre reconhecer se a atitude religiosa do ser humano é honesta e simples, concorrendo para o seu pleno desenvolvimento e felicidade, ou, ao contrário, equivale à idolatria, independentemente do modo como se exprime, ou se oculta, no pensamento consciente; se ele se entrega simplesmente a um endeusamento ilegítimo das coisas, de aspectos parciais do mundo e se submete, fraco e impotente, a essas coisas, ou se dedica à sua vida à realização dos mais altos princípios, tais como: o amor, a justiça e a razão. O importante, em suma, é o espírito que orienta a experiência religiosa.

Se os ensinamentos religiosos, qualquer que seja a origem, estimulam o crescimento, a honestidade, a cura interior, a liberdade e a felicidade dos seus crentes, estamos diante dos frutos do amor. Mas se contribuem para o mau uso das potencialidades humanas, para o empobrecimento espiritual e improdutividade, não se pode acreditar que se originem do amor, mesmo que os dogmas assim os afirmem.

Deixemos aos teólogos as especulações transcendentes. A nós, interessa, sobretudo, o problema da humanidade, essa obra-prima da natureza, que, entretanto, envergonha-se de si mesmo, ignorando no inconsciente, as manifestações da sua natureza primitiva e dissociando, por projeção, as suas qualidades mais sublimes: a sua razão e o seu amor, que, se libertados e desenvolvidos, poderão orientar em muito a grandeza das forças mágicas e admiráveis, que poderão ser extraídas do nosso interior para as conquistas espirituais e materiais, em Deus.




Por: Bernardino Nilton Nascimento (Stum)
Imagens: google.com


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